A Observação de Aves é uma das atividades de lazer praticadas ao ar livre que mais cresce no mundo. Porém, definir o que é esta modalidade não é uma tarefa tão fácil assim. A relação do homem com a natureza, especialmente com as aves, ocorre desde o início das primeiras civilizações. Entretanto, o que entendemos atualmente como observação de aves tem algumas características bem marcantes, que a tornam uma atividade cada vez mais específica.
Também conhecida como birding e birdwatching, é uma atividade em que a pessoa dedica parte do seu dia a observar passarinhos livres. Sim, isso é o mais importante, aves livres. Por exemplo, podemos aceitar que o simples fato de jogar um punhado de milho triturado no quintal faz parte da atividade de observar aves. Existem, porém, aqueles que vão além. Para algumas pessoas não basta apenas ver, é preciso saber o que está vendo. A partir do momento em que a pessoa passa a ter curiosidade sobre características específicas da ave que está observando, como seu nome ou comportamento, tudo muda.
Nesse momento, o observador em potencial começa a transformar seu lazer em uma atividade planejada e sistematizada, podendo até ingressar no grupo dos observadores de aves com perfil de colecionistas. Para estes, cada ave representa uma figurinha em um grande álbum com mais de 11 mil espécies conhecidas em todo o mundo. E obviamente, figurinhas novas são uma enorme motivação, e aí entra o potencial da atividade para o turismo!
Turismo e birding
Normalmente, o observador de aves inicia sua jornada observando aves nas proximidades de sua residência. Passa por parques urbanos e, em algum momento, seu município passa a não oferecer mais nenhuma “figurinha” nova. Esse é o momento em que a pessoa começa a sentir a necessidade de organizar viagens com foco em birding, se tornando, portanto, uma oportunidade para o turismo, nosso foco aqui. Inclusive, existem hoje condutores, guias, agências, atrativos e destinos especializados em receber observadores.
Nesse contexto, o Brasil é um dos mais importantes locais para observação de aves, possuindo 1971 espécies de aves conhecidas. Nosso país é o terceiro colocado no ranking mundial, ficando atrás apenas de Peru e Colômbia. No cenário nacional, privilegiado por sua rica biodiversidade e relevo acidentado, o Estado de Minas Gerais abriga três biomas – Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica – e apresenta aproximadamente 40% de toda a avifauna nacional. Não é surpresa que seja um dos destinos mais procurados por observadores de aves tanto brasileiros quanto estrangeiros.
Oportunidades na observação de aves
O pós-pandemia reforçou ainda mais o enorme crescimento do birding, sobretudo no Brasil. O turismo outdoor foi um dos primeiros a ser liberado pelos protocolos sanitários e isso ajudou a dar um grande salto na quantidade de pessoas que optam por esse tipo de atividade. Além disso, os observadores passaram a criar e consumir muito conteúdo online, o que expandiu ainda mais o alcance de informações sobre o mundo da observação de aves. Na edição 2023 do Avistar Brasil, Encontro Brasileiro de Observação de Aves, foram mais de 8 mil visitantes e cerca de 70% desse público estava participando pela primeira vez. Além disso, 80% das pessoas tinham interesse em descobrir novos destinos para viajar.
Esse é certamente um grande momento para o birding nacional. Precisamos aproveitar para capacitar e qualificar os profissionais e alavancar o surgimento de novos atrativos e destinos. Estamos ainda no início desta jornada, porém é importante entender que o Brasil tem todas as características para se tornar uma das grandes potências do turismo de observação de aves do mundo. O momento é oportuno e temos muito campo fértil para iniciativas que incentivem o empreendedorismo especializado neste nicho.
Precisamos direcionar nossos olhares para nos tornarmos competitivos neste nicho. É necessário cada vez mais cobrar o estabelecimento de políticas públicas que incentivem e financiem a formação, capacitação e qualificação de profissionais, produtos e serviços. Precisamos ainda melhorar o acesso ao mercado e a promoção dos nossos destinos neste segmento. O Brasil tem as condições necessárias para transformar esse enorme potencial em um negócio sério e, assim, competirmos com os grandes players do hemisfério norte.