Turismo cinematográfico: como grandes produções influenciam destinos turísticos
O fenômeno conhecido como “turismo cinematográfico” ou “set-jetting” tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Com filmes e séries famosas despertando o interesse global por locais específicos, diversos destinos turísticos viram sua demanda disparar após serem retratados em grandes produções. O caso recente da terceira temporada da série “The White Lotus” na Tailândia, por exemplo, levou a um expressivo aumento de turistas no país, especialmente em locais como Bangkok e Phuket. Porém, esse interesse não é inédito na Tailândia: Maya Bay, eternizada pelo filme “A Praia” estrelado por Leonardo DiCaprio, experimentou uma explosão semelhante no turismo após o lançamento do filme, resultando em danos ambientais graves e subsequente fechamento temporário da praia para recuperação.
O impacto real das produções no turismo
Além da Tailândia, outros destinos têm experimentado fenômenos semelhantes. A série “Yellowstone”, por exemplo, transformou o estado de Montana nos Estados Unidos em um dos destinos mais buscados por turistas interessados em vivenciar o cenário retratado pela produção. O Washington Post detalha como a série atraiu um novo perfil de visitante para a região — viajantes urbanos interessados em experiências de imersão rural, hospedagem em ranchos e paisagens intocadas. O aumento na visitação gerou crescimento econômico em cidades próximas, mas também trouxe preocupação com a capacidade de infraestrutura, gentrificação de propriedades rurais e aumento da pressão sobre comunidades locais.
Outro caso notório é Dubrovnik, na Croácia, que recebeu milhares de visitantes após aparecer como King’s Landing em “Game of Thrones”. Segundo dados oficiais, a série gerou um aumento de até 10% na economia local, mas também trouxe desafios como a superlotação e a pressão sobre os serviços urbanos.
Já a Nova Zelândia, graças à trilogia “O Senhor dos Anéis”, estabeleceu-se fortemente no mercado do turismo cinematográfico. A cidade de Matamata, onde fica o famoso set de Hobbiton, virou atração permanente e recebe milhares de visitantes anualmente.
Na Espanha, a Andaluzia ganhou destaque internacional após servir de cenário para produções como “La Casa de Papel” e o spin-off “Berlín”. Segundo reportagem recente do El País, a região viu sua receita turística crescer substancialmente em função dessa exposição midiática.
Impactos positivos e negativos
O turismo cinematográfico é um fenômeno complexo e ambivalente. Se, por um lado, atrai investimentos, gera empregos locais, amplia receitas e promove a cultura regional, por outro pode sobrecarregar a infraestrutura local, afetar negativamente a qualidade de vida dos residentes e causar danos ambientais.
Dubrovnik, por exemplo, experimentou um fenômeno de “overtourism” com picos de visitantes que muitas vezes ultrapassam sua capacidade de suporte. O resultado? Desgaste acelerado dos espaços históricos, inflação nos preços locais e insatisfação crescente entre moradores. Para mitigar esses impactos, destinos precisam investir em estratégias que equilibrem a promoção turística com a preservação cultural e ambiental. Experiências bem-sucedidas, como a criação de taxas turísticas para financiamento da infraestrutura em Dubrovnik ou o controle rígido de visitantes em Maya Bay, são exemplos concretos de ações que podem garantir que o turismo cinematográfico seja sustentável e benéfico para todos os envolvidos.
Iniciativas brasileiras de promoção audiovisual
Reconhecendo essa tendência, o Brasil também tem investido em estratégias audiovisuais para impulsionar o turismo nacional. Recentemente, a Embratur lançou o edital “Brasil com S”, voltado à produção de curtas-metragens para divulgar destinos brasileiros no mercado internacional. Além disso, parcerias com produtoras buscam posicionar o país como destino atraente por meio de produções audiovisuais estratégicas.
É possível ser um blockbuster fora das telas – mas a sustentabilidade é essencial!
O turismo cinematográfico não é apenas uma tendência passageira, mas sim uma poderosa estratégia de promoção e desenvolvimento turístico. No entanto, seu sucesso depende essencialmente do planejamento cuidadoso e responsável. Destinos precisam estar preparados para o boom turístico decorrente dessas produções, investindo em infraestrutura, gestão sustentável, envolvimento comunitário e proteção ambiental. Somente assim poderemos transformar visitantes impulsionados pela paixão pelas telas em aliados reais do desenvolvimento local sustentável.