Por que o afroturismo é essencial para o turismo brasileiro
Para felicidade de ótimos profissionais do setor, o turismo nacional está mudando para melhor. Estamos evoluindo para que o mesmo seja mais inclusivo, diverso e acessível para maioria da população, principalmente dentro do próprio país. Mas claro, ainda temos muito trabalho para tornar o turismo, principalmente de lazer, mais inclusivo e diverso.
No Brasil, 56% da população se auto declara negra (pardos + pretos), portanto, ao pensarmos nestes dados, temos um grande potencial de inclusão destas pessoas no turismo. E digo inclusão, porque quando observamos o turismo no geral, quem mais vemos nestes espaços são predominantemente pessoas brancas. O motivo desta constatação é simples: preconceito racial, racismo sendo mais especifico.
Não é possível falar de inclusão das pessoas negras em qualquer setor da nossa sociedade sem citar o racismo e suas consequências. No turismo nacional tradicional temos iniciativas muito tímidas de inclusão racial, por este motivo o afroturismo tem tanto potencial, pois incluiria a maior parte da população, além dos aliados da causa antirracista.

Foto: Guia Negro
O que é afroturismo e de onde vem esse movimento
Mas o que é o afroturismo? Para quem é o afroturismo? Como posso praticar o afroturismo? Bom, além da definição do título deste artigo, tentarei ampliar o conceito do afroturismo de forma prática, sem muitas burocracias.
É importante ressaltar que para chegarmos no termo afroturismo, antes tivemos o turismo étnico racial e também que o mesmo se conecta em alguns momentos com turismo de base comunitária. Mas o afroturismo abrange uma inclusão maior, pois tem como um dos principais propósitos trabalhar a inclusão de pessoas negras como um todo, desde dos turistas e viajantes negros, assim como profissionais e empreendedores negros do setor.
Afroturismo como espaço de protagonismo negro
O afroturismo visa prioritariamente ter o negro como protagonista nas experiencias turísticas, seja nas viagens a lazer ou negócios, nos eventos, na gastronomia, na história, na cultura. Com este foco, trabalhamos para que este turismo seja pensado e executado com esta inclusão, sem preconceitos e alinhados a história e cultura negra.
Por estes motivos, as ações de conscientização e letramento antirracistas são fundamentais para o setor, pois a inclusão não será possível sem a compreensão do preconceito, que muitas vezes é praticado de maneira inconsciente, por falta de conhecimento sobre o tema, mas que também não pode servir de “desculpas” ou de omissão para falta de investimentos nestas ações e treinamentos.

Museu Afro Brasil, São Paulo – SP. Foto: Embratur
A importância da hospitalidade antirracista
Se o racismo é um problema na sociedade, também será no turismo se não houver as iniciativas de combate ao preconceito.
Afroturismo é para todos, negros e não negros, pois ao ter o negro como protagonista, ele promove a inclusão com consciência, principalmente o afroturismo histórico e cultural.
Na sociedade brasileira, infelizmente a verdadeira história e cultura negra foi “apagada” e através de um tour, caminhada afro centrada em um centro urbano ou a uma comunidade negra, quilombola, pessoas negras se conectam com representatividade e pertencimento na experiencia e pessoas não negras adquirem conhecimentos inclusivos que ajudam a combater pré-conceitos, promovendo inclusão e consciência dos benefícios sobre diversidade. Por isto que citei no parágrafo acima que investimentos em hospitalidade antirracistas são fundamentais.
Como praticar o afroturismo no Brasil
Praticar o afroturismo consciente é ter o conhecimento que o protagonismo negro é pleno no segmento, portanto, quando for consumir o afroturismo, saiba que profissionais negros do setor, assim como empreendedores negros também são protagonistas.

Restaurante Baobá, União dos Palmares – AL. Foto: Embratur
O risco da apropriação sem inclusão
Infelizmente já temos casos de “apropriação” no segmento: pessoas não negras, principalmente com foco em lucros financeiros e visibilidade dizendo que fazem afroturismo. Exemplo: comprar um tour afro centrado com guia de turismo branco.
Não podemos impedir que pessoas brancas façam e vendam experiências de afroturismo, mas seria ético se um dos principais focos é a inclusão de profissionais negros, que já são a minoria atuando no turismo? Nós, que trabalhamos com a evolução, desenvolvimento profissional do afroturismo no país, alertamos sempre para que esta inclusão seja prioritária e inegociável deste protagonismo negro, pois assim geramos representatividade e pertencimento.
Afroturismo como o maior movimento de inclusão no turismo nacional
Ao somar a população negra e aliados da causa antirracista no Brasil, temos no afroturismo, com certeza, o maior movimento de inclusão em prol da diversidade do turismo nacional.
Neste texto eu poderia incluir uma série de dados, estatísticas, etc, mas acredito que precisamos trabalhar no setor uma consciência coletiva de como todos podemos colaborar para um afroturismo forte, estruturado como segmento turístico, pois a partir deste passo, conseguimos promover cada vez mais um turismo verdadeiramente diverso e inclusivo.
Sejamos todos aliados da causa antirracista no turismo.