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O novo Mapa do Turismo Brasileiro 2025, lançado pelo Ministério do Turismo com apoio técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), representa uma mudança importante na forma como o país classifica e acompanha seus destinos turísticos.

Até agora, a categorização era feita com base em apenas 05 (cinco) variáveis ligadas diretamente à economia do turismo: número de meios de hospedagem, empregos no setor, visitantes domésticos, visitantes internacionais e arrecadação de impostos federais da hotelaria. Esses dados eram utilizados para classificar os 5.571 municípios brasileiros incluídos no Mapa.

A partir da atualização a metodologia foi significativamente ampliada: serão consideradas 70 variáveis organizadas em 10 dimensões, que refletem com maior precisão a realidade do turismo no país.

Pela primeira vez, a análise incorpora múltiplas dimensões do turismo, oferecendo um retrato mais complexo da realidade municipal.

 

O que é o Mapa do Turismo Brasileiro

 

Como já explicamos anteriormente no Turismo Spot, o Mapa do Turismo Brasileiro é o instrumento que orienta a atuação do MTur no desenvolvimento de políticas públicas. Estar presente no mapa significa acesso prioritário a programas de infraestrutura, capacitação, promoção e financiamento do Ministério do Turismo.

 

As 10 Dimensões da Nova Metodologia

 

Até 2024, os municípios eram avaliados por apenas cinco variáveis: estabelecimentos formais, empregos, visitantes domésticos, visitantes internacionais e arrecadação de impostos federais.

Agora, a metodologia se baseia em 70 indicadores, distribuídos em 10 dimensões estratégicas:

  1.  Governança turística – Existência de órgãos gestores, conselhos ativos e planos de turismo.
  2.  Recursos culturais e naturais – Inventário de atrativos históricos, culturais e ambientais.
  3.  Serviços turísticos – Hospedagem, eventos, atendimento e qualidade dos serviços.
  4.  Infraestrutura de transporte – Acessibilidade por rodovias, aeroportos e vias aquáticas.
  5.  Estrutura econômica – Renda per capita, emprego e capacidade de investimento.
  6.  Especialização turística – Peso do turismo na economia municipal.
  7.  Conectividade digital – Acesso à internet e cobertura de telefonia móvel.
  8.  Segurança pública – Índices de criminalidade e percepção de segurança.
  9.  Capacidade de saúde – Rede hospitalar e atendimento médico para residentes e visitantes.
  10.  Demanda turística efetiva – Frequência de visitantes e movimentação de passageiros.

Essa ampliação reflete um entendimento mais realista do fenômeno turístico, mas também exige maior capacidade técnica dos municípios para levantar, sistematizar e atualizar dados.

 

Nova lógica de classificação

 

As categorias anteriores (A-E) foram substituídas por três grupos funcionais:

  • Grupo 1 – Municípios turísticos

Destinos consolidados, com alta capacidade de atração e infraestrutura robusta. Todas as capitais estaduais entram automaticamente aqui.

  • Grupo 2 – Municípios com oferta complementar

Destinos com atrativos e estrutura intermediária, que fortalecem roteiros integrados e oferecem experiências adicionais.

  • Grupo 3 – Municípios de apoio

Municípios que não são destinos em si, mas têm papel estratégico no suporte logístico, na integração regional e no fluxo de visitantes.

Essa diferenciação reconhece que nem todo município precisa ser destino final — alguns cumprem funções importantes dentro da rede de turismo regional.

O papel do IPEA

 

A entrada do IPEA na metodologia trouxe maior rigor estatístico:

  • Análise multidimensional integrada dos indicadores;
  • Algoritmos mais sofisticados de agrupamento;
  • Validação robusta dos resultados;
  • Possibilidade de atualização periódica com base em dados oficiais.

Trata-se de um salto de qualidade técnica, mas que também impõe novos desafios para municípios com menor estrutura de gestão.

Foto: Embratur

 

Impactos estratégicos

 

A Portaria MTur nº 06/2025 prevê que até 90% dos recursos federais sejam destinados a municípios incluídos no Mapa. Isso reforça a centralidade da ferramenta na política pública de turismo.

Mas algumas questões permanecem:

  • Municípios pequenos terão condições de atender às 70 variáveis?
  • O risco de concentração de recursos em grandes centros continua presente, mesmo com a sofisticação metodológica?
  • Como será garantida a qualidade e a transparência dos dados informados?

Esses pontos precisam ser acompanhados de perto para que a nova metodologia não acabe ampliando desigualdades regionais.

Estratégias diferenciadas para cada grupo

 

O Ministério do Turismo prevê ações adaptadas:

  • Grupo 1 – Foco em competitividade internacional e infraestrutura avançada.
  • Grupo 2 – incentivo à criação de produtos específicos e qualificação profissional.
  • Grupo 3 – Apoio à capacitação e integração regional.

Na prática, isso exige das gestões locais clareza sobre o papel de seu município no sistema turístico e articulação com territórios vizinhos.

Foto: Embratur

Como os municípios podem se preparar

 

A nova metodologia pede avanços em quatro frentes principais:

  • Governança – órgão gestor ativo, conselho de turismo funcionando e plano estratégico atualizado.
  • Infraestrutura – investimentos em transporte, conectividade digital, segurança e saúde.
  • Dados – capacidade de coletar, monitorar e atualizar informações turísticas.
  • Articulação regional – fortalecimento de consórcios e parcerias intermunicipais.

O futuro da gestão turística pública

 

O novo Mapa do Turismo traz avanços importantes ao incorporar variáveis que refletem melhor a complexidade do setor. Ao mesmo tempo, coloca à prova a capacidade dos municípios de se organizarem, produzirem dados de qualidade e articularem políticas públicas.

Mais do que “entrar no Mapa”, o desafio está em transformar essa classificação em estratégia prática de desenvolvimento turístico. Só assim o instrumento poderá cumprir sua promessa: apoiar políticas públicas mais eficazes, reduzir desigualdades e fortalecer destinos de forma sustentável.

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