Na última quinta-feira, dia 30 de julho, o Turismo Spot abriu uma série de entrevistas chamada “Conexões Sustentáveis” que pretende tratar da transversalidade do turismo e suas possibilidades de interação com outros temas, tendo como pano de fundo a sustentabilidade. O primeiro entrevistado foi o designer e co-fundador do Instituto A Gente Transforma, Marcelo Rosenbaum e o tema da entrevista foi “Turismo com Propósito”.
Durante a entrevista, Marcelo explicou como o design pode ser trabalhado como ferramenta de transformação social. O processo, que por exemplo é desenvolvido pelo Instituto A Gente Transforma, começa no entendimento dos saberes locais e da ancestralidade da comunidade, do desenho das relações e a arqueologia afetiva. O produto artesanal é entendido a partir da sua história original, resgatando elementos que, eventualmente foram substituídos por outros mais “modernos”. A busca pela essência do saber ancestral tende a desvendar um valor que, muitas vezes, não é enxergado pela própria comunidade, “acostumada” com aqueles objetos tão naturais no seu cotidiano (como, por exemplo, um cesto de palha de carnaúba utilizado para colher frutas). A partir de sua experiência e valores, o Marcelo acredita que dar luz a esses objetos e gerar renda para a comunidade a partir deles fortalece o processo de autoestima e incentiva a busca por outros saberes e tradições adormecidas (a exemplo da dança).
O fortalecimento dessa identidade genuína e a possibilidade de contribuir com uma comunidade que está, muitas vezes à margem da sociedade, é um dos motes incentivadores do turismo de base comunitária. O potencial de geração de renda, aprendizado e trocas reais e profundas abrem espaço para um turismo de propósito, que envolve muita, troca e transformação.
Fazendo um paralelo conceitual, a Oxford Royale Academy definiu turismo com propósito como um viagem com um objetivo que pode passar pelo auto-aperfeiçoamento, desde escolas de verão até os retiros de meditação ou a melhoria do mundo ao redor, como a construção de cercas em parques nacionais até aulas de idiomas à crianças de comunidades locais. O Marcelo na entrevista completa, é um turismo onde é possível a partir do ofício do viajante gerar um apoio direto e em alguns casos uma transformação positiva na comunidade.
A Organização Mundial do Turismo – OMT (2018) reforça que o turismo promove a inclusão social de várias maneiras. Em particular, o setor pode beneficiar mulheres, jovens, idosos e pessoas com deficiências físicas, sensoriais e outras. De maneira mais ampla, o turismo também pode beneficiar comunidades locais que tradicionalmente são ignoradas nos processos de distribuição e tomada de decisões.
Mas é sempre assim? Durante a entrevista, discutimos que é necessário bastante cuidado e respeito e responsabilidade, pois uma linha tênue separa uma experiência de turismo com propósito de uma iniciativa que gere transtornos e contribua com a “espetacularização” de uma comunidade
Em Várzea Queimada, comunidade do interior do Piauí, onde o A Gente Transforma desenvolve um trabalho há nove anos, o Marcelo explicou que a atuação do Instituto passou por um processo de criação de confiança e de fortalecimento das relações, com um processo de escuta intenso O trabalho, que começou com o design, vem abrindo possibilidades para um turismo de base comunitária que possa gerar renda e muita troca e aprendizado. Contudo, ele reforça que é preciso ir bem devagar, testando a iniciativa, para entender a forma de construir as oportunidades com muito respeito e ter o tempo ideal para que os processos ocorram de maneira fluida.
Não são todos que tem o perfil e estão abertas a um turismo como esse. Experiências como essas não envolvem, por exemplo, serviços com padrões usuais, tampouco estrutura turística como estamos “acostumados” a encontrar. A motivação dos viajantes deve ser, sobretudo, a transformação, o aprendizado com saberes e formas de vida e sustento muitas vezes desconhecidas para aqueles que vivem em grandes centros urbanos e, sobretudo, o respeito às pessoas, à cultura e à natureza.
O Instituto A Gente Transforma coopera para a reconquista da autoestima de comunidades que permanecem à margem da sociedade, por meio de ações que retomam saberes ancestrais e trazem benefícios concretos para o indivíduo e suas comunidades: liberdade, autonomia, prosperidade.A ferramenta que alavanca esta transformação é o design, encontro da natureza e a mão humana.
O trabalho desenvolvido pelo Instituto A Gente Transforma se dá através de uma metodologia própria, o Design Essencial, aplicada em todos os seus projetos para sensibilizar, trazer à tona os saberes ancestrais destas comunidades, revelar seus talentos e empoderá-los de suas capacidades.