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As fotografias de viagens há muito tempo desenham o imaginário de todo e qualquer tipo de turista/viajante. Mais do que mostrar e/ou antecipar cenas turísticas, tornaram-se o principal instrumento para a visualidade do fenômeno, isto é, ‘o fazer ver’ de destinos, hotéis, serviços e produtos do turismo. Dessa forma, nenhuma ferramenta comunicacional substitui e aciona tão bem os desejos e as fantasias do viajar como as imagens fotográficas, cujos efeitos de sentidos estão voltados para a construção de imaginários turísticos da Viagem Perfeita. Por outro lado, e sem dúvidas –  de acordo com minhas pesquisas, esse aspecto precisa ser tomado como uma ‘MÁXIMA’ para os negócios do Turismo, bem como, para os estudos e pesquisas científicas. Não quero dizer com isso que trade ou mesmo a academia não entendam a relevância das fotografias para a comercialização do e no turismo. Porém, conhecer ‘densamente os efeitos de sentidos’ que elas provocam, promovem e determinam no consumo turístico, vai além do reconhecimento que a imagem fotográfica é importante. 

São as fotos de viagens que delineiam as experiências que o setor aspira projetar para o potencial consumidor. Primeiro, para que este se identifique e, depois, para que ele deseje replicar a vivência em sua próxima viagem. Isso significa que é vital para profissionais saberem analisar e selecionar as fotos de maneira ‘consciente e ética’ para poder utilizá-las nos materiais promocionais e nas plataformas midiáticas. Na verdade, escolher ‘qualquer imagem fotográfica’ só porque ela é bonitinha ou, mesmo, diferente é um gap muito perigoso para qualquer tipo de estratégia comunicacional (publicitária e marketing), independente, da área dos negócios.  As fotos turísticas devem convocar o consumidor-turista vivenciar, sentir sensações e projetar-se na experiência, mas estas precisam representar a realidade turística para não haver decepções e problemas futuros. A venda da imagem do destino, serviço e/ou produto é a primeira ação estratégica que um empreendedor do turismo deve se preocupar em DOMINAR! Do mesmo modo, o profissional em Comunicação e Marketing Turístico. Na mesma medida, deve-se ter mais atenção por parte dos pesquisadores que ambicionam conhecer mais sobre comunicação turística.

As potências fotográficas

Segundo o pesquisador Christoph Tüecke (2010) são as potências fotográficas que determinam, cada vez mais, o modo como coisas, sentimentos, objetos, lugares devem ser apreendidas. Ou seja, trata-se da capacidade das pessoas perceberem, representarem, imaginarem e pensarem o mundo, o modo de vivê-lo e consumí-lo, inclusive as viagens. São quatro potências, vejamos:

  1.     Fazer ver (visualizar)
  2.     Olhe para mim (captar atenção)
  3.     Projete-se (imaginar a experiência)
  4.     Compre-me (consumir)

Agora, imaginem-se vendo uma fotografia de um belo resort, numa praia paradisíaca brasileira e perceba a atuação das potencias acima, forte, não é? Logo, pode-se deduzir que saber ‘ler e interpretar’ os significados das fotos turísticas criticamente, objetivando uma aplicação qualificada em prol de uma sustentabilidade turística, é ainda um grande desafio a ser ultrapassado pelo setor, bem como, pela pesquisa acadêmica. Mais do que isso-, como já expliquei em outros artigos, é vital desenvolver uma percepção apurada das imagens fotográficas que permitam discutir e aprimorar “práticas do olhar e as práticas de produção, circulação e construção de sentidos atribuídos a elas” (NÓBREGA; PRADO, 2012, s.i.).

Produção fotográfica do turismo e seu agente 

Conhecer quem é o produtor fotográfico e que tipo de fotografia turística ele produz é o ponto de partida para uma classificação básica para você começar a entender mais sobre elas, para só depois, interpretar (semiotizar) qual é o objetivo dessa produção e, qual é, ou será, o seu melhor uso para o Turismo. Nessa perspectiva podem ser classificadas em dois tipos: profissionais e amadoras. 

  1. a)  As fotografias profissionais – utilizadas no planejamento promocional do setor e pelos media capturadas por fotógrafos profissionais e visam a promoção e o consumo dos destinos e produtos turísticos. Essas fotos podem ser categorizadas como imagens híbridas, ou seja, produzem sentidos publicitários e jornalísticos. São capturadas por um olhar treinado.
  2. b)  As fotografias amadoras – capturadas pelos turistas (sem considerar que o viajante seja fotógrafo profissional) que objetivam materializar suas experiências e cristalizar as memórias afetivas da viagem. Esses fotogramas ainda podem ser subdivididos em: · Fotos amadoras padronizadas que podem ser compreendidas como imagens obtidas sem o domínio de técnicas fotográficas, apreendidas por um olhar comum, não treinado profissionalmente e resultam em fotos uniformizadas que imitam e figurativizam imagens iconizadas pelos media e pelo setor. · Fotos amadoras não padronizadas que são constituídas por traços de imitações de outras fotografias iconizadas, ou seja, as figuratividades das fotos não visam reproduzir (copiar) paisagens turísticas pré-visualizadas midiaticamente e podem ser capturadas por um viajante ou por um fotógrafo profissional (MELLO, 2015).

As categorias das fotografias turísticas 

 Existem duas categorias de fotografias turísticas, segundo meus estudos em Semiótica do Turismo: “os clássicos”, “os passionalizadores”. As fotografias clássicas turísticas são divididas em: Fotos Cartão-Postal e Fotos Troféu. Já os discursos passionalizadores são derivados dos clássicos, porém, são muito mais específicos em termos de efeitos de significados, elementos e figurativizações da cena turística. São eles: Fotos colecionismo do mundo; Fotos especialistas em turismo; Fotos de afetividades turísticas; Fotos felicidade exótica do turismo; Fotos estilo de vida turístico e, recentemente, pode-se acrescentar mais uma, fotos de estilo de viagens seguras.

Para você saber mais como analisar, aplicar e estudar publiquei uma proposta teórica/prática, no livro SEMIOTICA do TURISMO, onde além de explicar o que é essa semiótica especializada e a razão de construir-se um arcabouço teórico, também apresento uma nova possibilidade metodológica de análise e interpretação das fotos turísticas capturadas pelo setor e turistas. Por meio dessas apreensões sensoriais realizadas com esse instrumento metodológico/teórico é possível diagnosticar quais são os principais dizeres e os valores sociais e culturais agenciados pelos enunciadores do setor (público, privado e mídia) e dos viajantes. Dessa maneira, pode-se (re) formular estratégias de marketing turístico, posicionamento de destinos e produtos/serviços turísticos visando a qualidade da representação do ‘mundo das viagens’. 

 

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Cynthia Mello

É doutora em Comunicação e Semiótica do Turismo, pesquisadora, professora, consultora e palestrante do setor. Também, ministra cursos sobre Semiótica do Turismo, Comunicação Turística e Fotografia Turística. Em 2019 publicou o livro Semiótica do Turismo Aplicada pela Editora Appris, o primeiro do gênero no país. Sobre o Turismo Spot - "A iniciativa é ótima, pois consegue fazer uma ponte importante entre teoria e prática no Turismo. Parabéns!"