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O tema da sustentabilidade no turismo não é uma novidade: há mais de 30 anos o assunto é debatido no meio. Mas, nos últimos anos, aspectos como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, a pressão de organizações ambientalistas e grupos de proteção, a intensificação da discussão sobre mudanças climáticas na esfera global tem trazido mais elementos para discussão dessa temática associada ao turismo e às viagens.

Pesquisas apontam que o consumidor está, cada vez mais, buscando viagens sustentáveis e atento ao comportamento e iniciativas de destinos e empresas turísticas. Por outro lado, um relatório de 2022 do Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum – WEF) feito em parceria com a Accenture destaca que, embora as pesquisas apontem esta tendência, muitas vezes o comportamento prático do turista no planejamento e decisão de viagem não reflete essa preocupação. Há, portanto, uma lacuna entre o “dizer” e o “fazer”. E a suposição do WEF é que um dos motivos para isso, é a carência de produtos de viagem sustentáveis ​​atraentes.

Um dos desafios é a própria complexidade e multisetorialidade do setor. Em se tratando de destinos turísticos, é importante que o turismo integre uma estratégia mais ampla e transversal de sustentabilidade e desenvolvimento que busque, sobretudo, o bem estar dos moradores, visto como um valor central e inegociável. 

Um exemplo de iniciativa é a cidade de Sydney, na Austrália, que em 2018 elaborou um plano focado na sustentabilidade ambiental  no setor de hospedagem e entretenimento, o Make Sydney a Sustainable Destination. Tal plano apresenta oportunidades e áreas de atuação tanto para líderes do setor, proprietários ou operadores de hospedagem e serviços de entretenimento, organizadores de eventos e seus clientes quanto para organizações governamentais. Contudo, este plano integra uma estratégia mais ampla da cidade denominada Sustainable Sydney 2030-2050 (uma continuidade de um Plano iniciado no início dos anos 2000) que apresenta objetivos, estratégias e projetos que vão desde a revitalização de área públicas, criação de parques e espaços culturais até a melhoria do transporte público e incentivo ao uso de bicicleta e caminhada.

No que se refere a produtos e equipamentos turísticos, criar opções e adotar práticas sustentáveis não é uma tarefa trivial mas há muitas possibilidades viáveis. Organizações internacionais, tais como a Rede One Planet,  a Organização Green Initiatives e a Plataforma Tourism For SDGs e o próprio WEF se esforçam no intuito de compartilhar boas práticas relacionadas ao setor. No Brasil, iniciativas como o Prêmio Braztoa de Sustentabilidade buscam também dar visibilidade aos esforços do setor. 

Na esfera ambiental, o Green Initiatives – que já certificou como localidades carbono-neutro destinos como Machu Pichu no Peru e Bonito e, mais recentemente, o empreendimento Estância Mimosa, ambos no Mato Grosso do Sul – produziu um Guia Brasileiro de Ação Climática para Empresas e Destinos Turísticos em parceria com o Ministério do Turismo, a Embratur e a Fecomércio. Este guia, lançado em 2023, apresenta alguns conceitos base e destaca que destinos e negócios devem ser proativos nesse processo. Estabelecer uma linha de base confiável em relação às emissões de gases de efeito estufa, medir e analisar os resultados e implementar ações efetivas são estratégias indicadas como fundamentais. 

Alguns exemplos de ações a serem implementadas são a gestão de resíduos (com controle e ações como reciclagem e compostagem), a adoção de mecanismos de redução de consumo elétrico (lâmpadas de LED, sensor de movimento ou até mesmo a transição para energia renovável com painéis solares), a priorização de insumos locais e utilização de produtos carbono-neutro e o chamado Turismo Regenerativo a partir da compensação das emissões e/ou oferecendo a seus clientes a oportunidade de compensar e se envolver em ecossistema esforços de restauração.

Nesse mesmo tema, o relatório do Fórum Econômico Mundial traz algumas recomendações de estratégias que podem ser usadas para construir as bases para um ciclo de desenvolvimento de produtos baseado na sustentabilidade. Algumas sugestões práticas são:

  • Desenvolva experiências-pilotos e protótipos e teste no mercado
  • Compartilhe histórias de sucesso sobre produtos sustentáveis (não importa quão pequenos sejam), bem como técnicas eficazes
  • Promova o alinhamento em relação a estratégia de medição das emissões e padrões de relatórios, etc
  • Atue em conjunto com parceiros para apresentar soluções abrangentes de viagens sustentáveis e que facilitem o acesso dos turistas a produtos sustentáveis pelos clientes

Indo para além do turismo, um estudo produzido pela McKinsey & Company destaca o grande potencial do Brasil em se tornar um ator-chave no processo de descarbonização da economia global, ao mesmo tempo em pode impulsionar o crescimento inclusivo e sustentável. Mas ainda temos muito a avançar tanto em relação a políticas públicas quanto no planejamento e implementação de estratégias e ações coordenadas, especialmente no turismo.

É fato que a sustentabilidade e a adoção de ações para mitigar os efeitos das mudanças climáticas já podem ser considerados fatores fundamentais para a competitividade de negócios e destinos turísticos no médio e longo prazo. Seja você também parte deste movimento de sustentabilidade ativa!

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Isabela Sette

Mestre em turismo pela USP, mora em São Paulo mas mantem sua terra natal Minas Gerais no sotaque e no coração! Acredita que o turismo pode ser uma ferramenta importante de desenvolvimento local, com respeito e sustentabilidade. É sócia da Turismo 360 e se sente privilegiada por trabalhar com amigos que tanto admira. Sobre o Turismo Spot: Acredito muito na missão do portal de levar um conteúdo técnico relevante porém acessível, que pode ser aplicado no dia-a-dia da gestão do turismo. Me sinto muito feliz em ser cofundadora e contribuir com essa ferramenta!