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Estamos em 2025. Não é impressionante que com tanta tecnologia e informação disponível, as estratégias para planejamento e gestão de destinos não se apropriam da inteligência de dados no turismo para otimizar suas decisões?

O papel da inteligência de dados no turismo

Segundo o IBGE, cerca de 90% dos brasileiros acessam a internet todos os dias¹ e é justamente na internet que encontramos muitos dados e informações úteis para qualquer empreendimento, gestor público ou cidadão. São dezenas de bases de dados oficiais e múltiplas fontes de informações alimentadas a cada segundo, especialmente se considerarmos a complexidade da cadeia de valor do turismo, abordada no artigo Como uma boa gestão pode impactar na competitividade de um destino turístico?. Existem centenas de plataformas sendo utilizadas e o grande desafio é obter uma visão integrada e assertiva sobre demanda, oferta e demais aspectos que impactam a atividade.

O desafio da estruturação de dados no setor

O esforço de consolidar os dados do setor é recente e a rede Brasileira de Observatórios de Turismo (RBOT) conta com apenas 65 observatórios membros, entre os quais uma minoria divulga algum site para acesso (somente 29%)². Essa fragilidade na gestão das informações fica mais evidente se considerarmos que menos de 1% dos 2.595³ municípios presentes no mapa do turismo Brasileiro, possuem algum observatório membro da RBOT.

Como funciona a inteligência de dados no turismo?

Um Destino Turístico Inteligente (DTI)* se desenvolve considerando diversos aspectos econômicos, socioculturais e ambientais para sua sustentabilidade. Nesse sentido, a estrutura tecnológica é um pilar fundamental para coleta, análise e interpretação de grandes volumes de dados capazes de  gerar informações objetivas e úteis para antecipar demandas, entender a oferta, conhecer turistas, analisar tendências e adequar investimentos. Em um mercado cada vez mais digital e dinâmico, destinos turísticos e empresas também precisam se adaptar e inovar para conseguirem se manter competitivos. E a inteligência de dados no turismo tem se mostrado eficiente para isso.

Fontes de dados no turismo

De uma forma simplificada, as ferramentas de inteligência de dados devem considerar três fontes principais:

  • Coleta primária;
  • Bases de dados oficiais ou em fontes abertas;
  • Aquisição ou busca de dados privados.

Coleta de dados primários

As coletas primárias incluem a obtenção de dados diretamente com sua origem. Ou seja, turistas, empreendedores, gestores ou quaisquer outros envolvidos no objeto da pesquisa. Nessa categoria se destacam as pesquisas de perfil de demanda, os inventários da oferta turística e a coleta de dados da hotelaria como taxa de ocupação, diária média e outros dados dos turistas. Essas coletas geralmente demandam algum investimento para contratação de empresas de pesquisas, consultorias ou integradores de sistemas. 

Uso de bases de dados oficiais

Em bases de dados oficiais é possível encontrar dados socioeconômicos bastante relevantes para o turismo. Além do próprio Cadastur do Ministério do Turismo, há também outras fontes importantes, como os dados de população, renda e produção econômica do IBGE. Da mesma forma, os dados de emprego de renda do Novo Caged (Ministério do Turismo) ou movimentação nos transportes como ANAC e ANTT. São dezenas de instituições e é importante considerar ainda as fontes internacionais, estaduais, regionais e municipais.

Já os dados privados podem ser adquiridos ou coletados por meio de buscas direcionadas. Um exemplo de aquisição disponível é a movimentação de turistas por meio de dados de telefonia móvel (Claro Geodata). Já nas buscas direcionadas, a intensificação do uso de smartphones durante todo o processo da viagem (Ver matéria Destinos Turísticos Inteligentes: modismo ou um caminho possível para o turismo brasileiro?  proporciona novos métodos de coleta a cada dia. Em poucos cliques é possível analisar o comportamento do destino ou empreendimento nas buscas do google (Google Trends) ou rever os comentários em plataformas digitais (Google meu negócio, TripAdvisor e outros). Em processos mais sistemáticos de coleta e armazenamento contínuo é possível identificar o tamanho da oferta e até avaliar o preço médio da hospedagem em determinado período (Booking ou Airbnb).

Como analisar e interpretar os dados coletados

A coleta de dados é apenas o primeiro passo. No entanto, para uma análise mais assertiva, é fundamental manter uma coleta sistemática e contínua ao longo do tempo, afinal informações sobre evolução e tendência de determinado indicador dizem muito mais do que cenários estáticos pontuais. E para a melhor interpretação desses dados é que existem técnicas de garimpagem, também conhecidas como “data mining” na quais se analisa diferentes fontes de dados buscando identificar padrões ou possíveis relações ainda desconhecidas entre elas.

O impacto da inteligência de dados no turismo

A velocidade nas mudanças do mercado e a complexidade do setor exigem um esforço conjunto entre poder público, iniciativa privada e academia. Soluções tecnológicas devem ser acompanhadas de ações para qualificação de gestores e empreendedores, permitindo assim que o turismo alcance um novo patamar de competitividade. Destinos que não investirem nessa transformação correm o risco de ficar para trás em um mercado global cada vez mais digital e orientado por dados. 

Além disso, por meio da inteligência de dados no turismo todos se beneficiam: quanto maior a compatibilidade entre a oferta e os desejos e expectativas dos turistas, melhor a percepção de qualidade do destino. E essa qualidade é um reflexo de ações mais assertivas por parte dos gestores públicos e empreendedores para assegurar melhoria na experiência dos turistas e na vida dos residentes.

 


¹ 95% dos moradores possuem internet no domicílio e 94% dos que utilizam internet, acessam todos os dias. Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua Anual  – 4º Trimestre 2024 (PNAD Contínua). Tabela 7307 – Domicílios e Moradores, por situação do domicílio e existência de utilização de internet no domicílio e Tabela 6447 – Pessoas com 10 anos ou mais de idade que utilizaram a internet no período de referência dos últimos três meses, por situação do domicílio e frequência de utilização da internet.

² Consulta realizada em Fevereiro de 2025 no site: www.rbotbrasil.com 

³ Consulta realizada em Fevereiro de 2025 no Sistema de Informações do Mapa do Turismo Brasileiro – SISMAPA

* Conceito SEGITTUR de 2013, adotado pelo Ministério do Turismo e Sebrae.

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Mauro Coutinho

Um otimista, fascinado por desenvolvimento sustentável, que utiliza o turismo como ferramenta para que as futuras gerações possam desfrutar de muita qualidade de vida. Entusiasta dos números e tendências, acredita que as informações sempre devem ser analisadas considerando o contexto local, principalmente por meio de conexões pessoais em processos coletivos. Concluiu seu mestrado em Planejamento e Turismo Sustentável na Universidade das Ilhas Baleares (Espanha), atuou em projetos internacionais de desenvolvimento de destinos com a OMT (Organização Mundial do Turismo) e em todas as regiões do Brasil na formação de instâncias de governança. Sobre o Turismo Spot - "Percebo que a gestão do conhecimento em turismo ainda está muito distante da maioria das pessoas. Parabéns a essas mulheres do turismo que idealizaram o Turismo Spot e agradeço o privilégio de poder chamá-las de grandes amigas”