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Geoturismo e Geoparques são termos relativamente recentes, surgiram mais precisamente nos anos 90, e desde então, vem ganhando proporção e relevância não só no ponto de vista acadêmico como também, uma nova forma de gestão territorial com foco na sustentabilidade que vem chamando atenção cada vez mais de gestores em função dos resultados em prol do desenvolvimento regional. Para entender a ligação entre os termos, faz-se necessário voltarmos um pouco e analisar como se comportava as ações de conservação da natureza de um modo geral.

Os movimentos de conservação da natureza, em sua maioria, estiveram focados na proteção da biodiversidade, principalmente após a Rio 92, onde grande ênfase foi dada a proteção dos ecossistemas e habitat. Com isso, o meio físico (as feições geológicas e geomorfológicas) foi conservado de forma indireta por não ter recebido a mesma atenção que a biodiversidade. 

A partir da preocupação com a proteção do meio físico, surge no final dos anos 90 o conceito de Geodiversidade, utilizado para descrever a variedade de ambientes existentes dentro do meio físico. O reconhecimento da Geodiversidade permitiu o desenvolvimento de ações voltadas à sua proteção, principalmente para os aspectos geológicos ou geomorfológicos que apresentam características únicas, diferenciadas chamadas de patrimônio geológico. 

Uma estratégia de conservação voltada à proteção do patrimônio geológico e também da Geodiversiadade é o Geoturismo. É uma atividade que permite ao turista uma visão mais científica do que contemplativa da paisagem, enfatizando as feições geológicas como seu principal atrativo, permitindo um novo olhar à visitação turística, não tornando esta meramente contemplativa, mas, vindo a permitir o entendimento dos locais visitados, resultando na compreensão e importância daqueles aspectos geológicos, promovendo sua conservação.

O Geoturismo é um tipo de turismo realizado em áreas naturais (pode também ocorrer em espaços urbanos) com fins sustentáveis que se conecta com outras formas de turismo, como o ecoturismo (ressaltando que a geodiversidade condiciona a biodiversidade), turismo de aventura (utilizam a geologia e a paisagem como pano de fundo) turismo cultural (uso de material geológico na sociedade, como arte rupestre, rochas de significados culturais). E uma iniciativa que ganhou destaque neste sentido foram os Geoparques, estes são fatores chaves para o desenvolvimento do Geoturismo, uma vez que maximiza esta atividade, além de trazer benefícios econômicos locais e educam as pessoas sobre a evolução do seu local e paisagem.

Um geoparque é um território que combina proteção, promoção do patrimônio geológico e o desenvolvimento local sustentável. Essa iniciativa surgiu com quatro territórios europeus a Reserva Natural Geológica de Haute-Provence (França), a Floresta Petrificada de Lesvos (Grécia), Vulkaneifel (Alemanha) e Maestrazgo (Espanha), que resultou na Rede Europeia de Geoparques, atualmente com 73 geoparques em 24 países europeus. Com o seu sucesso, em 2004 surge a rede global de geoparques, atualmente possui 169 geoparques em 44 países. As redes foram se consolidando e crescendo, surgindo assim a rede Ásia Pacífico; Rede de geoparques da América Latina e do Caribe e a Rede Africana de Geoparques.

Em 2015, os 195 Estados Membros da UNESCO ratificaram a criação de um novo selo, os Geoparques Globais da UNESCO. Isso expressa o reconhecimento governamental da importância de gerenciar locais e paisagens geológicas excepcionais de uma maneira holística, e fornece um novo status internacional para uma antiga rede de locais de importância geológica, de preferência permitindo que a Organização reflita mais de perto os desafios sociais das Ciências da Terra hoje. 

No território brasileiro há várias propostas de geoparques. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM), no ano de 2006 criou o projeto Geoparques do Brasil que tem como premissa básica a identificação, levantamento, descrição, inventário, diagnóstico e ampla divulgação de áreas com potencial para ser um geoparque. 

No nordeste brasileiro já existe um geoparque chancelado pela UNESCO, o geoparque Araripe localizado no estado do Ceará, além do Geoparque Aspirante Seridó, localizado na região do Seridó do estado do Rio Grande do Norte. Em ambos os territórios a natureza, a paisagem e a geologia são o plano de fundo, assim como o desenvolvimento do geoturismo permite a inclusão da população local, seja pelo artesanato, produção de doces e outros itens da gastronomia do local que associam a marca dos referidos geoparques, dinamizando o comércio local. 

A sinergia de um geoparque e a prática do geoturismo gera muitos benefícios econômicos locais a comunidade o qual está inserido, além da capacidade de modificar a realidade social dos atores daquele território, bem como fortalece o seu capital social. A comunidade do Geoparque Aspirante Seridó, por exemplo, já sente esses benefícios.

Contudo, no ano de 2020, a pandemia do coronavírus,  impactou em uma série de atividades e o turismo foi uma das mais impactadas com a redução da contribuição do PIB global 10,4% para 5,5% do PIB, gerando uma perda de 62 milhões de empregos no mundo, conforme dados da WTTC- World Travel Tourism Council. 

Todavia, mesmo frente às adversidades, a atividade turística tem a capacidade de ser resiliente. O isolamento social modificou a realidade de muitas famílias, a dinâmica econômica de muitas atividades, acentuou instabilidades e incertezas, como também, influenciou também no bem-estar físico e mental de muitas pessoas. 

Apesar desse cenário adverso, muitas pessoas foram tocadas pela necessidade de se reconectar com a natureza, como uma forma de minimizar os diferentes males físicos e emocionais que estamos enfrentando. Estudos científicos revelam que a exposição direta à natureza é essencial para a saúde física e emocional (VAN DEN BERG et al., 2012; MOGHADAM, SINGH, YAHYA, 2015; LOUV, 2016; HUGHES et al., 2019).

Assim, com a adoção dos protocolos de biossegurança e distanciamento social, nesse processo de retomada, as áreas naturais ao ar livre estão ganhando cada vez mais importância. A busca por destinos com esse tipo de oferta, atrativos que têm pouco fluxo de pessoas, além de contato direto com a natureza e o ambiente rural são vistos como características que transmitem mais segurança. 

Nessa linha os geoparques podem ser beneficiados nesse sentido, tendo em vista que são áreas abertas, ao ar livre e que por sua própria peculiaridade, demanda um grupo pequeno, respeitando assim a capacidade de carga do local, minimizando os impactos no meio ambiente.  O processo pandêmico deportou nas pessoas uma reconexão com a natureza e os geoparques vão ao encontro dessa perspectiva. 

O convívio com a natureza oportunizado pelo geoturismo no território de um geoparque propicia aos visitantes a compreensão e o envolvimento com o meio ambiente natural (a biodiversidade e a geodiversidade local), dado que muitos desses geoparques apresentam belas paisagens, o que contribui diretamente para os efeitos da ansiedade, além de gerar bem-estar psicológico ao turista que está visitando o local. 

E essa reconexão com a natureza no espaço de um geoparque pode acontecer com a prática de caminhadas, banho de rios ou cachoeiras, contemplação e compreensão da vida silvestre, dos aspectos geológicos do local, trilhas guiadas, observação de pássaros e dentre outras atividades. Mesmo com a limitação de visitantes, essas atividades contribuem para a dinâmica econômica local, além de potencializar a educação ambiental nos visitantes. 

Os ambientes naturais e seus elementos (paisagens, cachoeiras, montanhas, árvores, aves e outros animais livres na natureza), se destacaram com índice de 83,9%, como espaços capazes de proporcionarem sensação de bem-estar, após a pandemia da COVID-19. (Melo, Melo & Guedes 2020). Todos esses elementos são possíveis de se encontrar em algum território de geoparques. 

O confinamento nos ensinou a valorizar o simples, o contato com a natureza, e nos fez entender que esse contato é necessário. Visitar um geoparque é uma experiência única com a natureza, a qual possibilita ao visitante além de compreender a totalidade do meio ambiente, o reconecta com a sensação de liberdade que tanto foi necessária nesses tempos de isolamentos. 

Ficou curioso de conhecer onde tem um geoparque ou Projeto de geoparque que possa te receber nesse novo normal? É só acessar o seguintes sites: 

https://geoparqueserido.com.br/; http://geoparkararipe.urca.br/;

http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Gestao-Territorial/Propostas-de-Geoparques—Volume-I-5751.html;

http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Gestao-Territorial/Propostas-de-Geoparques—Volume-II-%28Relatorios-Ineditos%29-5752.html

Navegue, delicie-se e visite quando possível. 

 

 

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Cristiane Cardoso

Uma mistura de pernambucanos que resultou nessa potiguar. Adora livros e é amante dos regionalismos. Atualmente é instrutora/ consultora e trabalha com planejamento participativo no programa DEL TURISMO. É turismóloga formada pela UFRN, com mestrado e doutorado na área. Sempre aberta a novas experiências e aprendizados que a vida nos traz.

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