O Brasil é frequentemente tratado como um país continental, devido a sua dimensão territorial e relevância econômica. Com 6,5% da superfície terrestre do planeta e 2,7% da população mundial, em 2021 estava entre as 12 maiores economias do mundo já tendo ocupado a 7ª colocação nesse ranking entre 2010 e 2014 (BANCO MUNDIAL, 2023). No entanto, esse vigor não se reflete no cenário turístico internacional e, em 2021, o Brasil recebeu apenas 746 mil estrangeiros, sendo o 60º país entre todos os monitorados pela Organização Mundial do Turismo. Mesmo se considerarmos o período pré-pandemia, o maior volume foi registrado em 2018, quando o Brasil recebeu 6.621.000 turistas internacionais e ocupou a 40º colocação nessa lista.
Dentro do Brasil, o estado de São Paulo é apenas o 12º maior em extensão territorial, mas do ponto de vista econômico e turístico é a Unidade da Federação que mais se destaca, sendo responsável por mais de 30% do PIB brasileiro em 2020 (IBGE, 2023) e 42,5% da arrecadação federal na economia do turismo em 2021 (BRASIL, 2022).
O anuário estatístico do turismo, elaborado pelo Ministério do Turismo, apresenta diversos dados específicos por Unidade da Federação. A análise da participação relativa de São Paulo, segundo diversos indicadores apresentados na tabela 1, confirma a relevância do estado em toda a cadeia de valor do turismo:
Tabela 1 – Participação relativa do estado de São Paulo em relação ao Brasil, relacionado aos indicadores de turismo em 2021:
Indicador | São Paulo (UF) | Brasil | % de SP em relação ao Brasil |
Arrecadação federal na economia do turismo (R$) | 8.120.121.179,98 | 19.113.632.698,32 | 42,5% |
Chegadas de turistas internacionais ao Brasil | 422.954 | 745.871 | 56,7% |
Embarques e desembarques internacionais de passageiros em aeroportos do Brasil | 2.019.951 | 2.551.989 | 79,2% |
Embarques e desembarques nacionais de passageiros em aeroportos do Brasil | 20.308.203 | 63.133.502 | 32,2% |
Agências de turismo cadastradas no Ministério do Turismo | 9.537 | 33.533 | 28,4% |
Oferta hoteleira cadastrada no Ministério do Turismo (Meios de Hospedagem) | 2.466 | 16.038 | 15,4% |
Oferta hoteleira cadastrada no Ministério do Turismo (Unidades Habitacionais) | 130.694 | 608.272 | 21,5% |
Oferta hoteleira cadastrada no Ministério do Turismo (Leitos) | 276.836 | 1.381.637 | 20,0% |
Restaurantes, bares e similares cadastrados no Ministério do Turismo | 3.073 | 20.782 | 14,8% |
Transportadoras turísticas cadastradas no Ministério do Turismo | 2.695 | 13.737 | 19,6% |
Locadoras de veículos cadastradas no Ministério do Turismo | 490 | 2.053 | 23,9% |
Organizadoras de eventos (congressos, convenções e congêneres) cadastradas no Ministério do Turismo | 1.903 | 8.528 | 22,3%
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Ocupações formais na Economia do Turismo | 529.272 | 1.793.996 | 29,5% |
Eventos internacionais realizados no Brasil | 0 | 4 | 0,0% |
Movimentação nacional de passageiros em rodoviárias do Brasil | 2.280.462 | 18.030.470 | 12,6% |
Guias de Turismo cadastrados no Ministério do Turismo | 5.541 | 27.605 | 20,1%
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Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Anuário Estatístico de Turismo 2022 (BRASIL, 2022)
Os três últimos indicadores, destacados em cor de fundo diferente, são os únicos nos quais São Paulo não lidera no cenário nacional, mas é importante destacar que os eventos e a movimentação de passageiros foram fortemente impactados pela pandemia. No período pré-pandemia, São Paulo liderou esses indicadores em relação ao resto do país.
Apenas em 2019, 56 dos 209 eventos internacionais realizados no Brasil foram em São Paulo, ou seja, uma participação relativa de 26,8%. E no mesmo ano, 20% da movimentação nacional de passageiros em rodoviárias foi em São Paulo (7.951.391 pessoas).
O único indicador que, sob um olhar histórico, São Paulo não lidera é o número de guias de turismo cadastrados no Ministério do Turismo (no Cadastur), ficando atrás do estado do Rio de Janeiro, líder histórico que, em 2021, tinha 9.345 guias cadastrados, ou seja, 33,9% dessa oferta. Ainda assim, a participação relativa de São Paulo (5.541 guias – 20,1%) é bastante significativa e mais do que o dobro do terceiro estado melhor posicionado – Paraná, com 1.946 guias.
Analisando o indicador da arrecadação federal na economia do turismo, a participação relativa de São Paulo é a menor nos últimos 5 anos. Em 2019 e 2020, São Paulo foi responsável por mais da metade de todos os tributos federais arrecadados na economia do turismo do Brasil e houve clara tendência de aumento dessa concentração entre 2017 e 2020. Já em 2021, apesar dos dados não indicarem retomada ao patamar pré-pandemia (2019), apontam uma mudança nessa tendência de concentração, com redução significativa dessa participação relativa em relação aos demais estados, conforme apresentado na tabela 2:
Tabela 2 – Participação relativa do estado de São Paulo na arrecadação federal na economia do turismo do Brasil, entre 2017 e 2021, em R$:
Ano | São Paulo (UF) | Brasil | % de SP em relação ao Brasil |
2021 | 8.120.121.179,98 | 19.113.632.698,32 | 42,5% |
2020 | 7.710.714.749,76 | 14.849.835.522,08 | 51,9% |
2019 | 10.440.169.905,54 | 20.775.360.154,11 | 50,3% |
2018 | 9.561.734.409,37 | 19.182.536.106,92 | 49,8% |
2017 | 8.534.743.680,82 | 17.841.311.863,47 | 47,8% |
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Anuário Estatístico de Turismo 2022 (BRASIL, 2022)
Outro indicador que merece análise é em relação à oferta cadastrada no Ministério do Turismo. Apesar de obrigatório para prestadores de serviços turísticos, apenas uma pequena parcela desses empreendimentos se cadastram e não é possível extrapolar esses dados para toda a oferta brasileira. Esse déficit se torna evidente pelo crescimento no número de empresas cadastradas entre 2018 e 2022, período com aumento de 90%, incoerente com a queda na atividade turística provocada pela pandemia (MENEZES, 2022).
Apenas em São Paulo, o número de restaurantes, bares e similares cadastrados aumentou cerca de 15 vezes entre 2018 e 2021. Em 2018, haviam apenas 200 empreendimentos desse perfil, chegando a 3.073 em 2021 (BRASIL, 2022).
Esse crescimento pode ser parcialmente explicado pelo incentivo oferecido, no período da pandemia, aos empresários cadastrados. O Selo Turismo Responsável e o PERSE (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) ofereceram benefícios concretos, tendo o Cadastur como um critério fundamental, assim como linhas de créditos estaduais direcionadas ao setor.
A percepção desses benefícios não é igualitária em todos os estados e diversos fatores podem influenciar o aumento desses cadastros. São Paulo é onde se concentra o maior número de restaurantes e similares cadastrados, mas é interessante notar que o maior crescimento foi no estado de Alagoas, com aumento de cerca de 20 vezes entre 2018 e 2021, chegando a 2.277 cadastros (11% do Brasil). Ou seja, o 3º estado com mais empreendimentos nessa categoria. Alagoas é um dos menores estados da federação e apesar do vigor do turismo, não é possível afirmar que tenha um número maior de restaurantes, bares e similares do que os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte ou Ceará (BRASIL, 2022).
Considerando esse conjunto de dados, é possível afirmar que o estado de São Paulo é um relevante núcleo do turismo do Brasil, concentrando a maior parte do fluxo internacional e a maior parcela dos tributos gerados na economia do turismo. Um dos maiores mercados emissores da América Latina, tem ainda participação significativa na oferta de serviços turísticos e na geração de emprego e renda dessa atividade.
Por outro lado, vale ponderar que o estado concentra parte considerável da economia brasileira e os dados apresentados reforçam essa constatação. Essa concentração, é claro, vai muito além do turismo mas, certamente, interfere na participação relativa do setor frente ao cenário nacional. Um país de dimensões continentais poderia ter pólos econômicos e arrecadação menos centrada e oferta de infraestrutura turística aeroportuária internacional, por exemplo, mais variada e descentralizada.
Apesar disso, é fato que as características e a participação relativa do estado de São Paulo no cenário nacional traz alguns desafios para a gestão do turismo e sua compatibilização com outras atividades econômicas. Nesse sentido, o planejamento amplo, integrado e que considere diferentes variáveis é fundamental para orientar a atuação de gestores públicos, empreendedores e turistas. O Plano de Regionalização do estado de São Paulo é um desses instrumentos e o artigo apresenta algumas informações sobre os resultados desse processo e métodos inovadores que pautaram sua construção.
BIBLIOGRAFIA
BANCO MUNDIAL. The World Bank databank. Disponível em: https://databank.worldbank.org/reports.aspx?source=2&series=NY.GDP.MKTP.CD&country=# Acesso em 09 de março de 2023.
BRASIL. Ministério do Turismo. Coordenação Geral de Dados e Informações. Subsecretaria de Gestão Estratégica. CGDI/ SGE/ SE. Anuário Estatístico de Turismo 2022. Volume 49. Ano base 2021. 1ª edição. Novembro/2022. Brasília: MTur, 2022
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades. Panorama Geral – Estado de SP. População (Ranking)/ Área da Unidade Territorial (Ranking). Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/panorama> Acesso em: 13 de março de 2023.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produto Interno Bruto. PIB das Unidades da Federação – 2020. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php> Acesso em: 13 de março de 2023.
MENEZES, Pedro. Número de empresas cadastradas no Cadastur quase dobra em cinco anos. Revista Mercado & Eventos. Turismo em Dados. Pedro Menezes, editor-chefe. Editora Mercado e Eventos Ltda. Reportagem de 29/12/2022. Disponível em: <https://www.mercadoeeventos.com.br/noticias/agencias-e-operadoras/numero-de-empresas-cadastradas-no-cadastur-quase-dobra-em-cinco-anos/>. Acesso em 15 de março de 2023.
OMT. Organização Mundial do Turismo. UNWTO. Compendium of Tourism Statistics – Basic data and indicators. All Countries: Inbound tourism: Arrivals 1995 – 2021 (12.2022). Series 1.2. Inbound tourism – Arrivals of non-resident overnight visitors. UNWTO, 2022.
ONU. United Nations. Department of Economic and Social Affairs. Statistic Division. Statistical Yearbook 2022 edition. Sixty-fifth issue. Tabela: “Population, surface area and density. pp 13 & 17. United Nations, 2022.