O conceito de Destinos Turísticos Inteligentes, ou DTI, oriundo de Smart Cities, apesar de recente na literatura acadêmica mundial, se ancora em pilares há muito tempo discutidos no turismo: Inovação, Acessibilidade e Sustentabilidade. O fator, relativamente novo, é a Tecnologia.
Em um mundo conectado como o que vivemos, a tecnologia é mais do que um diferencial competitivo. Ela é condição de existência e sobrevivência para os empreendimentos turísticos e, consequentemente, dos destinos turísticos. Um estudo realizado pelo Google e pela IPSOS Media CT, em 2014, alertava: “esqueça os guias de viagem em papel, as reportagens nas seções de turismo dos jornais e revistas ou até mesmo o bom e tradicional agente de viagens. É o digital que está pautando e influenciando as decisões dos viajantes sobre os seus próximos destinos”. Essa constatação é ilustrada com alguns números:
- 65% dos viajantes a lazer pesquisam na internet antes mesmo de saber para onde vão. Para viajantes a negócios esse número sobe para 69%;
- 66% assistem vídeos online quando pensam em fazer uma viagem;
- 56% usam a internet como inspiração para as viagens;
- 60% dos viajantes a lazer e 60% dos viajantes a negócios recorrem a ferramentas de busca online para planejar suas viagens;
- 51% buscam por termos relacionados a destinos quando iniciam o planejamento das viagens. Nomes específicos de marca ou site são usados por apenas 31%;
- 94% dos viajantes a lazer e 98% dos viajantes a negócios optam por uma agência de viagens online para comprar suas viagens.
Entre outros dados, o referido estudo chegou a uma conclusão que hoje está ainda mais visível: smartphones são utilizados durante todo o processo de viagem!
De acordo com dados da União Internacional de Telecomunicações, agência especializada da ONU, 3.9 bilhões de pessoas, o equivalente a 51,2% da população mundial, utilizam a internet atualmente. Sendo assim, esse contexto das viagens nada mais é do que o reflexo de nossa sociedade, que molda os perfis de turistas. Turistas conectados que buscam informações online, mas querem experiências reais nos destinos que visitam.
Sobre o perfil desse “novo turista”, a Amadeus preparou um documento intitulado “Future Traveller Tribes 2030. Building a More Rewarding Journey” que mapeou o comportamento dos futuros viajantes e os agrupou em seis categorias, chamadas tribos: Obligation Meeters, Simplicity Searchers, Ethical Travellers, Reward Hunters, Cultural Purists e Social Capital Seekers. Em comum, todos eles têm o uso intensivo da tecnologia no antes, durante e no depois das viagens.
Notamos que a tecnologia está fortemente incorporada no comportamento da demanda. O que precisa se adequar é a oferta turística, que ainda olha desconfiada para todas as mudanças que vêm surgindo no setor. Mais do que existir na internet, este cenário de múltiplas conexões requer inteligência de dados. Os turistas, assim como todos nós que acessamos diversos serviços pela internet, deixam rastros digitais que indicam preferências, hábitos e estilos de vida. Nunca foi tão fácil, e ao mesmo tempo tão complexo, estimar aquilo que chamará a atenção dos turistas e assim formatar experiências personalizadas. E isto vale não apenas para os empreendimentos privados, mas também para as gestões dos destinos turísticos.
Na Espanha, por exemplo, a empresa Telefônica (que também atua no Brasil), disponibiliza uma solução de big data focada no turismo que atende tanto as empresas quanto aos governos locais. É o LUCA Tourism que, por meio dos dados oriundos da rede móvel da Telefônica, permite:
- Determinar o volume e a origem dos turistas ao longo do ano;
- Adaptar os serviços públicos às necessidades reais dos viajantes;
- Conhecer a porcentagem de visitantes que escolhem o destino para pernoitar;
- Conhecer as áreas mais visitadas;
- Analisar os padrões de comportamento por tipo de turistas; e
- Identificar a recorrência das visitas.
Ou seja, tudo é mapeado a partir do uso dos celulares nos destinos. E, como vimos anteriormente, os smartphones são utilizados durante todo o processo de viagem. Cabe aos gestores, públicos e privados, receber estes dados, interpretá-los e tomar as melhores decisões.
O conceito de Destinos Turísticos Inteligentes está muito mais presente e acessível na realidade do turismo brasileiro do que imaginamos. Contudo, não devemos esperar receitas de bolo ou fórmulas mágicas. Como toda política pública, é preciso planejamento, monitoramento, correção de rumos e continuidade. Características que ainda estão distantes do nosso contexto, mas que são tangíveis, desejadas e urgentes.