Skip to main content

Cavernas! Também chamadas de grutas, tocas, abismos, lapas, furnas e tantos outros nomes. No geral, são aqueles “buracos” grandes o suficiente para as pessoas entrarem. E não é que elas entram mesmo? Você sabia que existem dezenas de opções de turismo em caverna no Brasil? E que no mundo, elas são milhares? E o mais impressionante: visitadas por milhões de pessoas a cada ano!

E o que as pessoas vão fazer “lá dentro da Terra”?

Uma caverna turística se caracteriza como uma oportunidade para o desconhecido. Ela é diferente dos demais roteiros de turismo de natureza, dado que é marcado por um espaço fechado por paredes e teto, predominantemente escura e que abriga todo um ambiente diferente, em termos de condições para a vida e da própria vida! Muitos seres que vivem nela são adaptados para viver no escuro, deixando de ter os olhos e desenvolvendo outros órgãos para sentir e perceber o ambiente ao seu redor. 

Além disso, as cavernas chamam a atenção em função da beleza que proporcionam pelas suas formações típicas, os espeleotemas. Os mais conhecidos são as estalactites (que pendem do teto) e as estalagmites (que se formam de baixo para cima e apontam para o teto). Também proporcionam roteiros de verdadeira aventura, seja aquela proporcionada pelo inusitado – mesmo cavernas turísticas de fácil acesso são consideradas uma aventura para algumas pessoas –, seja aquela do denominado “turismo de aventura”, com roteiros considerados mais difíceis, radicais e mesmo com uso de técnicas específicas, como rapel, mergulho, flutuação, natação e outras. 

Muitas cavernas também possuem elevado valor cultural, servindo como templos religiosos, sendo mais comuns as cavernas-igreja de religião Católica no Brasil. Por fim, lembramos ainda que vestígios arqueológicos ou paleontológicos, como pinturas rupestres, cacos cerâmicos, pontas de flecha e fósseis de animais extintos, podem ser vistos em algumas cavernas ou nos centros de visitantes associados a elas, sendo uma curiosidade cercada de conhecimento e que fomenta a nossa imaginação sobre o passado remoto de nosso planeta.

Diferentes perfis de turismo em cavernas pelo mundo

No mundo todo, existem diferentes perfis de turismo em cavernas. A caverna Postojna, na Eslovênia, talvez seja a mais conhecida no mundo, em função de sua peculiar visitação parcialmente feita em um trem. Algumas cavernas são mais voltadas para a contemplação, como as famosas Frasassi na Itália e Glowworm na Nova Zelândia. 

Muitas delas se valem da facilidade no acesso e da criatividade de seus gestores para incrementar a visitação com apresentações artísticas e musicais, como a Demanovska na Eslováquia e as Cuevas de San Josep na Espanha.  Outras proporcionam aventuras para os visitantes, tanto em função de um roteiro mais difícil, com caráter de exploração espeleológica – Mulu caves em Borneo é um exemplo – quanto por atividades técnicas de rapel ou mergulho.

Exemplos representativos destes roteiros mais radicais e com técnicas de exploração especializadas são a caverna Três Ojos no México, com atividades de mergulho, e o Abismo Anhumas, no Brasil, com acesso por rapel e possibilidade de realização de passeio de bote, mergulho e flutuação em seu interior. Um universo à parte é proporcionado pelas cavernas turísticas asiáticas. 

Muitas delas são dotadas de luzes multicoloridas, como um reflexo da cultura de seu país, como a Reed Flute na China e os dutos de lava da Manjanggul Cave na ilha de Jeju, na Coréia do Sul. Outras possuem como atração adicional o lado espiritual, se constituindo em verdadeiros templos de diferentes tradições religiosas e culturais. Exemplos são o Wat Tham Sua (Tiger Cave Temple) na Tailândia e o Rangiri Dambulla Cave Temple, no Sri Lanka – esta última, inscrita como Patrimônio da Humanidade na UNESCO.

A variedade de oportunidades de visitação em cavernas turísticas é, por si só, um convite para a novidade. E temos muitas delas espalhadas por quase todos os estados brasileiros! Algumas são famosíssimas, como a Gruta do Lago Azul, em Bonito-MS, a Gruta de Maquiné, em Cordisburgo-MG, a Gruta de Ubajara, em Ubajara-CE, o Refúgio do Maroaga, em Presidente Figueiredo-AM e a Gruta de Botuverá, em Botuverá-SC. Mas temos muitas outras, convido você a verificar se na sua região tem alguma. 

A maioria delas possui estrutura adequada para a visitação, de forma que você possa conhecer com segurança e aprender sobre o ambiente subterrâneo e suas belezas únicas. O que garante a qualidade, tanto para o meio ambiente quanto para o visitante, são estudos técnicos elaborados por especialistas, pois a legislação brasileira exige a sua elaboração e aprovação em órgãos ambientais, para ordenar a visitação e garantir a melhor possibilidade de uso sustentável para cada realidade.

Os roteiros de visitação podem durar poucas horas ou o dia todo! Na verdade, o que conhecemos de uma caverna costuma ser apenas um pequeno pedaço dela, pois algumas possuem desenvolvimento quilométrico. Exemplos são a Mammoth Cave, nos Estados Unidos, com quase 700 km já mapeados, e a Toca da Boa Vista, em Campo Formoso-BA, com 114 km, segundo o Cadastro Nacional de Cavernas da Sociedade Brasileira de Espeleologia – a ciência que estuda as cavernas. 

Outras curiosidades são os abismos profundos, como o Veryovkina, na Georgia, com aproximadamente 2.200 m de profundidade – o mais profundo do mundo! O Brasil também abriga um interessante recorde mundial sobre cavernas: o maior pórtico de caverna, ou “boca”, na Casa de Pedra, no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, Brasil, com 215 m de altura em seu vão livre.

A importância de um modelo de visitação consolidado

Para que tudo isso seja acessível de forma a não gerar problemas ambientais ou legais, a visitação de cavernas precisa ser desenvolvida seguindo parâmetros mundialmente consolidados e estudados. Trabalhos científicos como o de Araújo e Lobo (2023) apresentam uma compilação de boas práticas para o planejamento e gestão de uma caverna turística. Em linhas gerais, os pesquisadores apontam a necessidade da visitação controlada, gestão efetiva, interpretação ambiental oferecida ao visitante, conservação do ambiente e envolvimento comunitário local no processo decisório sobre o modelo de visitação da caverna. 

A oferta de serviços aos visitantes é igualmente importante, pois oferece facilidade, segurança, entretenimento e oportunidades de geração de emprego e renda. Entre os principais serviços, destacam-se os seguintes: alimentação, condução e lojas de suvenires. Também é importante que os dias e horários de visitação sejam definidos e respeitados. Taxas de visitação costumam ser cobradas e, se bem geridas, contribuem para a manutenção do atrativo turístico e para a conservação ambiental.

Visitar cavernas é uma experiência única de vida! Se tiver a oportunidade, não deixe de conhecer, certamente irá se maravilhar. Por outro lado, se você é envolvido com o planejamento e gestão do turismo e sabe que em sua cidade ou região existe uma caverna, faça contatos com especialistas para que ela seja avaliada. Quem sabe a próxima maravilha do mundo subterrâneo está aí, do seu lado, prontinha para ser descoberta e visitada?

 

Referências

ARAUJO, H.R.; LOBO, H.A.S. A strategic framework for analysis and implementation of good practices for the sustainability of show caves. Geoheritage, v. 15, p. 125, 2023.

SBE – Sociedade Brasileira de Espeleologia. CNC – Cadastro Nacional de Cavernas. Disponível em https://sbecnc.org.br/

 

COMPARTILHE:
Heros Lobo

Professor universitário apaixonado pela oportunidade de aprender, trocar e produzir conhecimentos. Desde 2002 leciona em cursos de Turismo, tendo a maior parte de sua trajetória sendo desenvolvida em disciplinas ligadas às temáticas de natureza, ecoturismo e meio ambiente. É um eterno apaixonado pela natureza em suas diferentes formas, podendo ser encontrado, quando menos se espera, em cavernas, praias, trilhas, florestas, montanhas, cachoeiras e muitos outros lugares... Fez de sua paixão a sua trajetória de formação, pois além de ter se formado em Turismo (1999), fez Especialização em Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Florestais (2004), Mestrado em Geografia (2006) e Doutorado em Geociências e Meio Ambiente (2011). Leva a sério a bandeira da sustentabilidade dos destinos e atrativos turísticos, compreendendo que o desenvolvimento econômico de longo prazo só é obtido se a conservação do ambiente e o empoderamento comunitário local forem respeitados e tomados por base. Sobre o Turismo Spot: que projeto fantástico! Precisamos de mais iniciativas assim, de popularização de conteúdos de qualidade e de incentivo ao diálogo entre planejadores, gestores, acadêmicos e consumidores do turismo. Amei a iniciativa e me senti muito honrado como convite para contribuir aqui!