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Diante de uma crise de saúde e econômica sem precedentes causada pelo COVID-19 que afetou o planeta, identificamos empresas e iniciativas interessantes, que contribuem para atenuar, ainda que minimamente, os efeitos negativos no curto prazo. Tais práticas reforçam a expectativa de que a crise ajudará em algumas transformações positivas na sociedade, ventilada por diversos especialistas, o que certamente acontecerá também com o turismo, um dos setores mais afetados pela crise.

No setor de varejo, o Magazine Luiza (Magalu) lançou o programa Parceiros Magalu, que já estava em desenvolvimento na empresa mas foi adiantado em função da pandemia, que tornou a plataforma ainda mais necessária. Trata-se de uma plataforma de vendas digital gratuita que irá ajudar autônomos e micro e pequenos varejistas a terem uma renda durante esse período de crise: aqueles que ainda não possuem presença online poderão montar, de forma simples e rápida, suas próprias lojas virtuais. 

O portal possibilita que pequenos vendedores anunciem seus produtos na empresa, que custeará o valor total do frete para os possíveis clientes. O investimento é de 3,99% por venda realizada, com uma taxa de antecipação de 0,99% ao mês e não existe nenhuma mensalidade fixa ou taxa de adesão. A plataforma faz a geração da nota fiscal da venda e oferece ao comerciante dados a respeito das operações realizadas. Para as pessoas físicas, as lojas virtuais podem ser criadas sem custo e a venda dos produtos pode ser feita por meio de redes sociais (Facebook, Instagram e Whatsapp). Em cada venda realizada por esses parceiros, o Magalu paga uma comissão que pode variar entre 1% e 12%, a depender do produto, da categoria a que ele pertence e do volume total vendido pelo parceiro.

Outra iniciativa que ilustra bem a colaboratividade no mercado brasileiro é o projeto #compredobairro. A iniciativa é um projeto pessoal de oito embaixadores, que são líderes de grandes empresas e instituições do Brasil, como o Grupo Malwee, Magazine Luiza, Grupo Boticário, Ambev, Embelleze, Stone, FLC e Rede Mulher Empreendedora. O projeto tem o objetivo de contribuir para a rentabilidade e competitividade dos pequenos negócios no setor de varejo diante do cenário complexo. Para isso a iniciativa irá atuar em duas frentes: Qualificação profissional e campanha de estímulo para consumidores comprar em comércios de bairro.   

A qualificação profissional já está disponível na plataforma do Movimento Compre do Bairro e envolve temas como gestão Financeira e Contábil, acesso a crédito, recursos Humanos, experiência do Consumidor e marketing Digital. A partir destas qualificações, busca-se capacitar os pequenos empresários para garantir a sustentabilidade financeira do negócio, tanto por meio da gestão, quanto por meio da utilização das mídias sociais (como facebook, instagram e whatsApp) para a realização de vendas. Para a disponibilização do conteúdo foi realizada uma parceria com o SEBRAE, Endeavor e a consultoria LHH. Além de cursos e materiais digitalizados, o pequeno empresários terá disponível lives e webinars com temas que lhe auxiliarão na gestão. Para ter acesso ao conteúdo, o lojista deverá acessar o site do  Movimento Compre do Bairro, onde também poderá ter um canal de contato direto com o SEBRAE. Além disso, a plataforma visa concentrar e divulgar todas as informações que poderão contribuir para a gestão dos pequenos negócios nesses momentos de crise. 

Em segundo momento, a partir da reabertura do comércio no Brasil, o movimento tem o objetivo de realizar uma campanha para estimular que a população consuma dos comércios de bairro, como uma forma de fortalecer os pequenos empreendimentos e auxiliá-los na retomada. A campanha de sensibilização consistirá na produção de conteúdos e utilização de canais de comunicação online (com redes sociais) e offline (como outdoors, cartazes). Os idealizadores do projeto destacam que os pequenos negócios no setor de varejo possuem grande importância na economia do Brasil e geram renda para milhões de famílias, assim acreditam que para além do aspecto econômico, o engajamento e adesão da população no movimento é uma forma de fortalecer a cultura de empatia e solidariedade. 

O setor de turismo pode aprender com essas boas práticas?

  • Grandes marketplaces do turismo poderiam se tornar colaborativos e vender pequenas iniciativas

Fica a reflexão: é viável aplicar a mesma lógica ao setor de serviços? Que caminhos ainda temos que percorrer? 

Uma questão que será ainda mais relevante pós coronavirus é a segurança. As agências de turismo respondem solidariamente por qualquer falha na serviço prestado, por ser considerada fornecedora de serviços, segundo o código do consumidor (lei 8.078/90). Ou seja, no atual contexto, é preciso conhecer profundamente o serviço prestado para ofertá-lo. Esse é um gargalo para a ampliação do marketplace do turismo brasileiro.

Por outro lado, avançar em mudanças na legislação exige uma profissionalização do setor. Assim, as agências não seriam responsabilizadas solidariamente e os turistas não sofreriam danos. O caminho é possível. Nosso passado recente mostra a mobilização do segmento do turismo de aventura, com a criação da ABETA – Associação Brasileira de Ecoturismo e Turismo de Aventura, implementação de programas focados na segurança e criação de diversas normas para o segmento, das quais somos referências mundiais. 

As políticas públicas neste sentido devem ser implementadas e não descontinuadas. Investir cada dia mais na profissionalização do setor deve ser uma prioridade do Brasil. 

  • O compre local pode ser uma bandeira

Tendências apontam para uma retomada do turismo de lazer, em um primeiro momento, de forma regional. Para os destinos e empreendimentos turísticos o momento é propício para convidar turistas regionais. O olhar das pessoas mudou e comprar localmente é sem dúvida uma opção. 

Quando a retomada acontecer, empreendimentos que valorizam produtos locais também devem ser mais procurados. É um movimento duplo de viajar regionalmente e ter contato direto com a cultura local, tendo por exemplo, a gastronomia como grande embaixadora. Neste contexto, a comunicação é um elemento crucial. Em momentos pós pandemia será relevante saber quem estamos ajudando diretamente com nosso ato de viajar.

O momento é ruim, mas as transformações são positivas

As relações de mercado e consumo têm apresentado grandes mudanças nos últimos anos, se mostrando mais colaborativas. Diversas empresas e startups disruptoras mudaram a forma de fazer negócios, incluindo um número elevado de pessoas em mercados antes considerados fechados. O cenário desafiador imposto pela Pandemia COVID-19 vem acelerando esse processo no Brasil e no mundo. 

Interdependência é um conceito inerente ao mercado, mas que por muito tempo foi negligenciado, ficando evidente uma cultura do “ganha, perde”. Com a crise muitas empresas estão experimentando seu poder de apoiar diretamente os pequenos negócios, deixar a economia minimamente de pé e ainda ter um retorno positivo desta ação.

Cabe ao setor de turismo, entender e incorporar na medida do possível boas práticas que estão surgindo ou sendo evidenciadas neste momento. Nós do Turismo Spot, continuaremos por aqui, pesquisando os temas e provocando as reflexões.

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Isabela Sette

Mestre em turismo pela USP, mora em São Paulo mas mantem sua terra natal Minas Gerais no sotaque e no coração! Acredita que o turismo pode ser uma ferramenta importante de desenvolvimento local, com respeito e sustentabilidade. É sócia da Turismo 360 e se sente privilegiada por trabalhar com amigos que tanto admira. Sobre o Turismo Spot: Acredito muito na missão do portal de levar um conteúdo técnico relevante porém acessível, que pode ser aplicado no dia-a-dia da gestão do turismo. Me sinto muito feliz em ser cofundadora e contribuir com essa ferramenta!